José Fanha nasceu em 1951. É arquitecto, professor e formador de professores, poeta, escritor de histórias e poesia para a infância. Guionista de televisão e cinema. Percorre escolas e bibliotecas orientando oficinas de escrita e comunidades de leitores.
"Há coisas do caneco"
No café do senhor João ouvi um homem a dizer para o outro: "Há coisas do caneco!". Fiquei de boca aberta. Nunca tinha visto ninguém a dizer aquelas palavras e ainda por cima com aquele estilo todo.
"Há coisas do caneco!"
Bolas! Via-se logo que o homem era mesmo um homem crescido. Daqueles que fazem a barba e que toda a gente fica a ouvir o que eles dizem e respondem-lhe: "O senhor tem toda a razão! Há coisas do caneco!"
Fui a correr para casa. Pus-me ao espelho a dizer:
"Há coisas do caneco!" Virei-me um bocadinho para o lado e voltei a repetir: "Há coisas do caneco!"Ainda não estava bem. Puxei as abas do casaco, pus uma sobrancelha levantada e o ombro a descair: "Há coisas do caneco!"
Ao fim de umas quinhentas vezes pareceu-me que estava bem. Já sei dizer "Há coisas do caneco!" com um grande estilo. A cabeça de lado, os olhos meio fechados, a sobrancelha levantada.
"Há coisas do caneco!"
Assim que souber o que aquilo quer dizer estou completamente pronto para ser um homem crescido.
in Diário Inventado de um menino já crescido, José Falha
"Há coisas do caneco"
No café do senhor João ouvi um homem a dizer para o outro: "Há coisas do caneco!". Fiquei de boca aberta. Nunca tinha visto ninguém a dizer aquelas palavras e ainda por cima com aquele estilo todo.
"Há coisas do caneco!"
Bolas! Via-se logo que o homem era mesmo um homem crescido. Daqueles que fazem a barba e que toda a gente fica a ouvir o que eles dizem e respondem-lhe: "O senhor tem toda a razão! Há coisas do caneco!"
Fui a correr para casa. Pus-me ao espelho a dizer:
"Há coisas do caneco!" Virei-me um bocadinho para o lado e voltei a repetir: "Há coisas do caneco!"Ainda não estava bem. Puxei as abas do casaco, pus uma sobrancelha levantada e o ombro a descair: "Há coisas do caneco!"
Ao fim de umas quinhentas vezes pareceu-me que estava bem. Já sei dizer "Há coisas do caneco!" com um grande estilo. A cabeça de lado, os olhos meio fechados, a sobrancelha levantada.
"Há coisas do caneco!"
Assim que souber o que aquilo quer dizer estou completamente pronto para ser um homem crescido.
in Diário Inventado de um menino já crescido, José Falha
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